HEIDEGGER E MARIA

Quem poderia imaginar que uma pernambucana nascida em Vitória de Santo Antão, filha de um professor da educação básica, e com apenas 29 anos de idade aí por volta de 1955/1956, se tornaria assistente de um dos maiores pensadores da contemporaneidade – o alemão Martin Heidegger (1889-1976)?

Pois Maria do Carmo Tavares de Miranda (1926-2012), formada em Letras e Filosofia e professora do Ensino Superior, dominando oito línguas, certa vez, na Europa, cursando pós-graduação em Filosofia na Sorbonne, na França, teve a oportunidade de participar do Curso de Especialistas estudiosos da Filosofia de Martin Heidegger (dirigido por ele mesmo, na Universidade de Friburgo, Alemanha), vindo a se tornar sua assistente.

Mas o que, de fato, ocorreu a partir desse encontro entre Heidegger e Maria?

Sobre Heidegger, desde 1957, já no Recife, Maria ministrou cursos, proferiu conferências, publicou livro.   E, especialmente, se uniu a ele para traduzir, fazendo uma longa introdução e pertinentes comentários ao livro/poema escrito pelo próprio Heidegger, “Da Experiência do Pensar” (publicado em 1968).

Maria nos apresentou Heidegger como sendo aquele que garantiu um lugar na História da Filosofia, por reabilitar a questão do “Ser”, visto que a tradição filosófica (sobretudo, metafísica) quando acreditou que estava se referindo ao “Ser”, na verdade estava tratando das coisas (substância, essência etc.) que poderiam chegar até ele, e não ele, o “Ser”, em si mesmo. Heidegger mostrou no poema que, igualmente, o poetar (secundarizado pela Filosofia) e o pensar crescem do “Ser”. É nessa experiência, que ele chamou de “poetar pensante” (lugar, espaço e linguagem do “Ser”) que os pensamentos vêm a nós, pois nós não chegamos a eles. Hora propícia para conversarmos conosco! Para pensar o não pensado, para ter coragem de pensar contra nós mesmos, para saber que quem pensa densamente, densamente erra. Para saber que a experiência do pensar é processo, é estar aberto para o que há de vir…

E foi assim que Maria fez! Saiu do seu lugar de filósofa (adepta da metafísica, discípula da escolástica) e, pensando o não pensado, deu vazão ao pensar heideggeriano (“Ser”): experimentou o poetar pensante, conversou com seus pensamentos, pensou contra si mesma… Por certo foi Maria em sua plenitude!

BELTRÃO, Kelma. Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão. Vitória de Santo Antão. Vol. XVII. 2020.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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