Uma “conversão” (No Caminho de Apipucos)

Uma conversão (No Caminho de Apipucos) por Flávio Brayner (JC, 16/07/2024)

A professora Kelma Beltrão publica, em breve, um livro que trata de um tema relativamente insólito, intitulado: Brasileirinho da Silva: a história da conversão de um homem!

É claro que sempre que tratamos de “conversão”, a primeira personagem que nos ocorre é Paulo de Tarso no Caminho de Damasco (Atos dos Apóstolos), em que Paulo (ou Saulo) fica cego por três dias antes de aceitar o Cristianismo, que antes perseguira. Três dias! A personagem desse livro levou, nada menos que 36 anos para realizar inteiramente sua conversão! De quem se trata? De que “conversão” estamos falando?

O protagonista desse livro é, ninguém menos do que o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), e a sua “conversão” não é religiosa, mas pedagógica: de defensor do analfabetismo das massas em 1923, ele se torna diretor de um Centro de estudos e pesquisas em educação em Pernambuco no final dos anos 50, sob a batuta nacional de Anísio Teixeira.

Os agitados anos 20 trouxeram para nossa intelectualidade sérias interrogações a respeito de nossa “identidade”, quer dizer, se seríamos capazes de superar nosso colonialismo, nossa subserviência intelectual em relação sobretudo aos padrões europeus de cultura: nossas elites olhavam para cima e viam a Paris de Haussmann, com seu gabarito de urbanização higienizante, afastando para as periferias (banlieus) as “classes dangereuses” (coisa que tanto Pereira Passos quanto Sérgio Loreto praticaram aqui, no Rio e em Recife!), e olhavam para baixo e viam o espetáculo de um povo ignorante de seu destino histórico, precisando de lideranças salvacionistas e decisionistas. É aqui em que aqueles anos 20 significarão uma reviravolta importante, e não posso deixar de considerar Mário de Andrade e o Movimento Modernista (1922) como a pedra de toque da interrogação sobre a “alma nacional”, sua “identidade” e seu “projeto”. As duas viagens etnográficas de Mário (Amazonas e Nordeste) tiveram a função de “redescoberta” do Brasil, um país que estava deixando de apostar suas fichas numa burguesia proto-francesa, adepta de ideologias racialistas (Gobineau), anti-republicana e filo escravista.

 

Segue o link do texto completo:

 Uma “conversão” (No Caminho de Apipucos)

 

Compartilhar